sexta-feira, abril 08, 2005  

Embarcando
Minha gente, duas grandes notícias! Primeira: estamos chegando no Rio no dia 12 de manhã! São muitas emoções e muitas muambas na bagagem! Pra comemorar, terça de noite tem chope no Lamas a partir das 20h! Vou estar presente nuzinho da silva e convido os amigos a me acompanhar. Vamos ficar duas semanas no Brasil, voltamos no dia 25. Enquanto isso, não vai ter puta triste nessa cidade: sodoma e gomorra.

Segunda boa notícia: mudando completamente de assunto, este mês ganhei mais três prêmios na SND, o “Show de calouros” das páginas de jornal, e mais uma medalha no Malofiej, uma espécie de “Portas da Esperança” da infografia. Tudo bem, grandes merdas porque ninguém sabe o que é infografia. E tudo bem que três dos quatro prêmios foram para a mesma página (depois publico aqui). Mas estou feliz e esse é mais um motivo pra gente encher o pote na terça-feira. A primeira rodada é por conta do André!

Pra quem pensava que...
...esse seria o primeiro post em meses que eu não ia falar da Seidi Sara: se enganou redondamente. Nossa amiguinha sem classe vai ficar numa espécie de hotel canino, vadiando com outros de sua estirpe enquanto estivermos no Rio. Pra ela vai ser moleza, vai ficar de sacanagem o dia inteiro. Difícil vai ser pra mim, que já estou viciado, admito, em catar seu cocozinho. De duas a três vezes por dia lá vou eu com meu saquinho plástico. E sim, senhor, acabei ficando viciado nisso.

Começou como uma obrigação. Era dureza, nunca vi um cachorro cagar tão fedido quanto a Seidi Sara. Me lembro que tinha vez que eu precisava segurar o fôlego pra não vomitar. Depois foi ficando cada vez mais tranqüilo, até que me acostumei e, vejam só: passei a gostar. Mais um tempinho e, sem perceber, constatei o pior: eu estava viciado. Acordo no meio da noite e levo até uma lanterninha para garantir que vou pegar até o último pedacinho de cocô.

Tem gente que é viciada em crack, eu sou viciado em catar cocô de cachorro. E daí? Isso não seria nada de mais não fosse por um fator estranho com o cocô de Sarita. Um belo dia ela começou com uma caganeira estranha que não passava de jeito nenhum... Xi, cagou sangue... Fomos na doutora e descobrimos o que era. Senhoras e senhores, pasmem: nossa cachorra andava cagando... Girafa!

A cachorra que cagava girafa
Não adianta, você pode pensar que já viu de tudo nessa vida. Mas uma notícia dessas mexe com a mente da pessoa. Minha gente, é muito sinistro: minha cachorra cagava gi-ra-fa!

É até difícil de imaginar que assim, do nada, de repente, um cachorrinho pequenininho desses, que você cria na sua própria casa, é capaz de botar pra fora um bichão de mais de três metros de altura, cheio de pintas, com um pescoção enorme e que, pra piorar, tem antenas.

Ah, isso me impressionou. Não consegui dormir por três dias. Mas, hoje, graças a Deus está tudo bem. A doutora deu remedinho e eu acho que as girafas desapareceram. O cocô tá durinho que dá gosto e já posso voltar a acender minha lanterinha tranqüilamente pela madrugada, sem receio de encontrar um animal com antenas saindo do ânus da minha cachorra.

Que tal?

posted by Sergio | 1:25 AM


terça-feira, março 29, 2005  

Sobre a castração em massa dos cães gringos
De acordo com um panfleto que vi outro dia, "diariamente nascem 10 mil humanos e 70 mil bichos de estimação nos Estados Unidos. A discrepância numérica faz com que todos os dias milhares de animais saudáveis sejam exterminados." Portanto, para tentar lidar com o peso na própria consciência, os americanos incentivam a castração. Quanto menos cachorros nascerem, menos eles vão ter que matar.

E se eu não quiser castrar?
Para mim e para a Dani também pareceu desumano esse negócio de ficar castrando tudo o que é bicho. Mas, no caso da fêmea (Seidi Sara, por exemplo), existem dois inconvenientes óbvios: 1) ela seria a portadora de possíveis filhotes; 2) o sangue no carpete a cada cio. Se fosse macho, o prejuízo era dos outros. Mas nasceu mulher...

Só que esses dois não são os únicos incovenientes de um animal não castrado nos Estados Unidos. Tem um bem idiota, por exemplo, que é relacionado ao registro obrigatório que todo animal tem que ter na prefeitura. A taxa anual não é cara, custa 7 dólares. Mas se o bicho não for operado o preço sobe para $30.

Outro inconveniente: não poderíamos deixar uma cadela não-castrada num canil quando formos ao Brasil. A parada é um hotel 5 estrelas: de 7h às 19h ela vai ficar brincando com outros cachorros, a coisa que ela mais gosta de fazer na vida. De 19h às 7 ela vai estar na jaula, tão cansada que nem vai ver o tempo passar. Enfim, um hotel bom pra cachorro, mas que ela não poderia desfrutar sem ser castrada.

Apesar disso, bem que queria ser cachorro nos Estados Unidos
É um negócio da China ser cachorro aqui. Muito brasileiro adoraria ter a metade dos paparicos que os cães tem. Cabeleireiros, perfumes, escovas de dente, veterinário uma vez ao ano, tratamento contra câncer, todo tipo de comida, brinquedo, cama especial, bebedouro exclusivo. Tudo, tudo. A única chance de ser um cachorro infeliz aqui é se o cachorro der o azar de pertencer a uma família de mexicanos e ser criado pra fazer rinha.

Mas os americanos têm uma relação muito interessante com os animais. De modo geral, é bem diferente da nossa e às vezes parece meio desumana. Mas ao que tudo indica é a melhor possível para ambos os lados. Para mim, um motivo claro do sucesso desse estilo de relacionamento é que os bichos aqui vivem mais do que os que eu conheci no Brasil. Aí eles costumam viver uns 8 anos e aqui não é difícil encontrar cachorros com 12 anos ou mais.

Os americanos partem do princípio que é preciso civilizar o cachorro. Isso quer dizer que uma grande parte dos bichos é relativamente treinada: sentar, ficar parado e buscar bolinha são ensinamentos relativamente comuns à sabedoria canina por aqui. Seidi Sara, por exemplo, nunca caga nem mija dentro do apartamento (com excessão de dois xixis em casa na primeira semana que estava com a gente e do incidente no carro). Tem cachorro que é tão treinado que prepara a janta, lava carro e faz até declaração de imposto de renda — eu já vi! Sério!

Boa parte dos donos de bicho que eu conheço está disposta a dedicar um bom tempo por dia ao animal. De modo geral, pelo menos uma hora de atenção quase exclusiva. Os donos se dedicam tanto aos bichos que inventaram uns parques só para cachorros. Aqui perto tem um: é uma área cercada do tamanho de dois campos de futebol, onde os animais ficam soltos e correm até botar os bofes pra fora. Fica ao lado de um lago proibido para humanos, mas onde a Seidi Sara adora nadar. Isso tudo para não falar nas várias entidades de proteção aos animais e nos supermercados que só vendem coisa para bicho de estimação. Enfim.

Boletim médico da Seidi Sara
Finalizando, vou dar o boletim médico de Seidi Sara: a operação para botar as tripinhas no lugar foi um sucesso e ela já se recuperou. Os pontos ainda estão na barriga, mas ela já pode correr e ficar de putaria. Como ela não cansa de comer meu dinheiro, agora inventou uma caganeira. Vira e mexe a Dani diz que “a Seidi Sara dá trabalho mas compensa”. Bem, minha opinião é a seguinte: a cachorra é maneira e eu não reclamo muito da despesa que ela dá. Mas pra compensar mesmo, é bom ela aproveitar que é da raça da Lassie e começar a salvar vidas por aí.

posted by Sergio | 1:02 AM


quinta-feira, março 17, 2005  

A odisséia da xoxota de Seidi Sara
A amiga leitora já pediu pra gente mudar de assunto e provavelmente ninguém mais agüenta ouvir a gente falar dela: Seidi Sara, a cadela descadeirada. Descadeirada porque agora nossa cachorra tem um novo drama em sua vida: se recuperar da cirurgia de castração.

Tudo começou na sexta-feira da semana passada, quando fomos a um açougue para pedir para cortarem fora a xoxotinha da Seidinha. Tomamos a decisão por três motivos: 1) evitar que prováveis viralatinhas transformem nosso apartamento num canil; 2) poder deixar a cadela num hotel canino quando formos ao Brasil (eles exigem que o animal seja castrado); 3) evitar mais cadelas no cio pela casa.

Teoricamente, uma semana depois da operação a Sarita deveria estar quase recuperada. E estaria, não fosse por uma complicação: nossa amiguinha teve uma hérnia e as tripinhas dela estavam querendo saltar pelos pelos pontinhos da barriga. Percebemos que havia algo estranho há três dias, mas só ontem confirmamos a notícia amarga. Hoje levamos pra consertar. E agora a bichinha tá aqui do meu lado, toda desbucetada. Jururu, mas com as pregas no lugar.

Benza deus.

posted by Sergio | 8:23 PM


domingo, fevereiro 27, 2005  

Bom pra cachorro
Fomos à Disney e não ainda não contamos nada aqui. Mudamos de casa anteontem, mas isso também não interessa. O assunto que não quer calar é um só: Seidi Sara, a cadela desbocada.

Gerou alguma controvérsia a solução carcerária que encontramos. Mas, pra começar, dói bem mais em mim do que em vocês. E, acima de tudo, dói bem mais na Seidi Sara do que em mim. E, pelo que andamos lendo, não dói tanto assim nem nela.

E a dor que ela sente não é física, mas psicológica e a longo prazo. Muitos cachorros que passam tempo demais na jaula ficam psicologicamente alterados: tem medo de tudo e só se sentem seguros quando estão na jaula. Muitas vezes, mesmo que haja gente em casa e a jaula esteja aberta, preferem passar mais tempo dentro do que fora.

Ainda não é o caso de Seidi Sara. Na verdade, ela melhorou muito nesse aspecto em nossa gestão sobre sua vida. Nunca andou tanto tempo solta por aí, sem coleira e fazendo social com outros cachorros. Por fim, pretendemos deixá-la tomando conta da casa no futuro. Mas ela ainda não está preparada para a tarefa, como comprova o incidente do sofá.

E o drama continua
Com essa coisa toda da mudança de casa, Seidi Sara voltou a ficar revolts. Se na semana passada ela não nos deixava dormir, nesta semana ela anda desobediente e dormindo demais. Acho que ela está puta da vida por causa da mudança. Dizem que cachorro gosta de estabilidade e isso é tudo o que ela não teve neste último mês. (Pois é, já faz um mês que ela está com a gente.)

Temos passado quase todo nosso tempo livre com ela, mas estou começando a achar que talvez não seja o suficiente para transformá-la numa cachorra feliz. Não sei, ela sempre fica agitada na hora que não deve e desobediente na hora que deveria obedecer.

Pra falar a verdade, já estou ficando de saco cheio dessa merda. Tudo o que eu quero é que ela não encha o saco e fique numa boa. Que brinque com a gente quando a gente quiser brincar e que brinque sozinha quando a gente não quiser brincar. De preferência sem fazer barulho. Que venha quando a gente chamar e que nunca saia correndo pro lado oposto. E, acima de tudo, que durma na hora de dormir. Em troca: comida, jaula pra dormir e passeio três vezes por dia. Não é justo?

Ai, ai...
Não sabemos mais o que fazer. Dá a maior culpa botar a bicha na jaula mas, em geral, em troca de um biscoito ela vai sem reclamar. É claro que eu e a Dani gostamos dela. Mas eu não sei se somos os melhores pais que ela pode arrumar. E a Dani nem gosta de pensar no assunto... E isso é foda porque fica parecendo que eu sou o escroto, que quer botar a bicha pra fora de casa.

Mas também pode ser...
...que a gente esteja pensando demais no assunto. E na verdade Seidi Sara já é a cachorra mais feliz do mundo, já que tem o prazer de me ver todos os dias -- algo que meu pai e minha mãe apenas sonham. Oh, my clit. Digam aí.


Seidi Sara, cadela modelo

posted by Sergio | 10:47 PM


quarta-feira, fevereiro 16, 2005  

A situação de Seidi Sara
Amigos, estamos vivendo um dilema com Seidi Sara e precisamos que vocês nos ajudem a decidir. Vou descrever as dificuldades que estamos enfrentando para ter um cachorro e as dificuldades que a cadela está enfrentando para se enquadrar em nosso estilo de vida. Não estamos falando só por nós, mas principalmente pelo bem estar da cachorra.

Contras
- Por causa do nosso trabalho, Seidi Sara vai passar 11 horas sozinha durante três dias por semana, e 10 horas sozinha duas vezes por semana. Isso não dá pra mudar.

- Enquanto estiver em casa, Seidi Sara estará na jaula. Por enquanto, eu tenho ido passear com ela todos os dias, no meio do expediente de trabalho. Mas vamos mudar e não vai dar tempo de fazer isso na casa nova, porque é bem mais longe.

- Podemos pagar alguém para andar a cachorra, mas custa 10 dólares por passeio. Ou seja, gastaríamos pelo menos $200 por mês só com o cocô da cachorra. É inviável. Também podemos tentar encontrar alguém para andá-la de graça, numa troca de favores. Mas ainda não encontramos essa pessoa e não sabemos se vamos encontrar.

- Durante a semana, quando a cadela passa muitas horas sozinha, ela passa o dia inteiro dormindo. Quando chegamos, cansados, naturalmente ela quer brincar. E não nos deixa dormir em paz. Ainda estamos trabalhando nisso, mas uma solução que funcionou esta manhã foi, infelizmente, colocá-la de volta na jaula... (Não queremos fazer isso, ainda estamos tentando corrigir.)

- A casa nova é menor que a atual.


Prós
- A casa nova fica ao lado de um lago. Lugar perfeito para levar o cachorro pra passear.

- Podemos levar a cachorra para passear três vezes por dia. 1. Um passeio curto de manhã cedo; 2. Um passeio de uma hora todos os dias, perto do meio dia e 3. Um passeio curto de noite.

- A casa nova tem uma varanda. Podemos improvisar uma portinha e liberar acesso da varanda para uma jaulinha dentro da casa, dando lugar pra Seidi caminhar durante o dia. Ela estaria em relativo conforto (mas continuaria passando 10 ou 11 horas sozinha).

- Nós gostamos da Seidi Sara.

Em poucas palavras
Gostamos dela e damos muita atenção quando estamos com ela. Mas ela vai ter que ficar sozinha muitas horas e isso gera dor de cabeça para nós em vários sentidos. E aí, o que a gente faz?

posted by Sergio | 11:19 PM


segunda-feira, fevereiro 14, 2005  

Seidi Sara fica!
Não é nada, não é nada, Seidi Sara venceu a marca das duas semanas e entrou de vez para a família Peçanhovits. Danielle não demorou para superar o episódio do sofá destruído e a cadela desbocada — sim, Seidi Sara gosta de xingar — ganhou o direito de permanecer na casa. Quando perguntada sobre o que achava da decisão, Seidi Sara soltou a frase histórica: “— se é para o bem de todos e a felicidade geral da nação, diga ao povo que foda-se!” E voltou a roer seu osso.

Na verdade, encontramos uma solução muito simples para superar o impasse causado pelo poder destrutivo de Seidi: compramos uma jaula. Se não estivermos em casa, é lá que a cachorra vai estar. Cruel? No começo eu também achava a idéia da jaula desumana. Mas, bem, para começar, cachorro não é humano. Em segundo lugar, de acordo com os veterinários, a jaula é um lugar bom pra cachorro!

A psicologia canina defende que nossos amigos de quatro patas se sentem protegidos na jaula. E, como passam a maior parte do dia dormindo, não é traumático para eles. Só é preciso tomar cuidado para não deixar o animal enjaulado tempo demais, “por causa de suas necessidades fecais”.

Mudanças
Muita coisa mudou desde que se Seidi Sara entrou em nossa vida. Danielle, por exemplo, diz que a cadela fez seu inglês melhorar muito. (Por algum motivo sinistro, a Dani insiste em só falar inglês com a cachorra.) Outra grande mudança foi nos nossos horários: passamos a acordar todos os dias, religiosamente às 7h30, para atender as necessidades fecais de Seidi Sara.

Como foi dito uma vez num episódio do Seinfield: “se os marcianos chegassem na Terra e vissem a gente limpando a bosta dos cachorros, eles não teriam dúvida de quem domina o mundo”. É profética a frase. Mesmo em dia de chuva e com um frio do cão, pego um saquinho plástico e vou feliz catar a bostinha morna que ela acaba de fazer pra mim. É uma recompensa enorme saber que cada cagada que Seidi Sara dá na rua é uma cagada que ela não vai dar na nossa casa. E só isso me enche de uma paz interior que compensa todo o trabalho que a cachorra me dá.

posted by Sergio | 12:25 AM


quinta-feira, fevereiro 03, 2005  

Um dia de cão
Seidi Sara anda tão contente com nossa companhia que, como prova disso, ontem nos preparou uma surpresa pra quando chegássemos em casa. Gente, olha só que lindo: sem ninguém mandar ela resolveu rearranjar os móveis da casa! Não é legal? Mesmo sem poder usar as mãos, ela não mediu esforços: usou a própria boca para puxar o sofá bem para o meio da sala! Como sofá é um móvel que não foi feito para ser puxado com a boca, a engenhosa cadela decidiu abrir um buraco no estofado para facilitar sua tarefa. Esteticamente, o buraco não é exatamente do meu gosto. Mas é funcional, não se pode negar.

Nossa cadela é super dotada! Se a Lassie era boa para salvar vidas, Sadie Sara esbanja graça e criatividade na decoração de interiores. É muito triste dizer isso mas, pensando no próprio futuro da cadela, estamos quase decididos a levá-la para um lugar onde seu talento possa ser mais aproveitado: a casa dos outros.


Seidi Sara, sua obra no sofá e os livros e fotos que usou como referência

posted by Sergio | 1:30 PM


quarta-feira, fevereiro 02, 2005  

Seidi Sara
Senhoras e senhores, a família Peçanhovits tem o prazer de apresentar o mais novo membro da nossa família: Seidi Sara, a cadela vadia. Pra começar: a idéia foi da Dani. Eu jamais pegaria um cachorro pra criar. Mas a patroa queria porque queria de um bicho de qualquer maneira. O motivo eu não sei. Enfim. Agora já é tarde demais e Seidi Sara já conquistou um canto em nossa casa.

Ela chegou na quinta-feira da semana passada, mas já tivemos momentos marcantes juntos. Mais precisamente, um momento marcante para o banco de trás do nosso carro. Levamos a bicha ao veterinário e ela tremia de medo. Ao sair da clínica, olho pelo retrovisor e vejo um animal curvado, fazendo força. Como se o espelho não refletisse a verdade, me viro para constatar o pior: sim, a cachorra tinha largado um barro no banco do meu carro.

E como fedia. E como era gorda a cagada. Em desespero procurei um estacionamento e fui bem claro: “Dani, você inventou essa história de cachorro. A obra é tua.” Puto da vida, saí do veículo com a cã. Felizmente havia uns produtos de limpeza na mala e, em dez minutos, a obra de arte de Seidi Sara era apenas uma lembrança fedorenta.

Deixei a Dani no trabalho e segui com a cachorra pra casa. Nós moramos a 10 minutos do jornal. É bem perto. Mas é longe o suficiente para a cachorra enjoar e, sem cerimônias, decidir que aquele era um bom momento para dar uma vomitada. Sim, a cadela vadia resolveu chamar o raul no mesmo lugar em que acabara de cagar. Dessa vez não fiquei puto, fiquei em transe. Levei a cachorra pra casa e, em resignação, depois voltei pra limpar.

O incidente aconteceu no nosso segundo dia com Seidi Sara. Foi amor à primeira vista. Desde pequeno eu sempre sonhei em ter um cachorro que cagasse e vomitasse no meu carro.

posted by Sergio | 11:35 AM


segunda-feira, janeiro 10, 2005  

Réveillon
Imagine o réveillon do Rio. Meia noite, praia lotada, macumba e Sidra Cereser. Iemanjá, fogos de artifício, calcinha vermelha e um bêbado vomitando compulsivamente. Agora respire um fundo e imagine o nada. Nem preto nem branco, pense no mais aboluto nada. Pois bem. O nada é o réveillon do Rio. Ano novo de verdade foi o que testemunhamos aqui este ano. Esperamos 2005 chegar numa festa na casa de uma família de colombianos. Amigos, tirem as crianças da sala: Sodoma e Gomorra.

Quanto mais a gente vive, mais a gente vive
Paredes vermelhas, luz negra, música ensurdecedora. Máquina de fumaça, espelhos no teto, banho de espuma, Ecstasy em caixinhas de Tic Tac. Mulheres loucas e de cabeça raspada se esfregando e se beijando, numa cama de camisas de força. Num dos cantos, um homem de cabeça pra baixo, pintado de verde e com uma banana na bunda, gritando: “!Soy una bananera! !Soy una bananera!” E embalando tudo isso, úisque, LSD e muita, muita cocaína. Ainda morna do calor de intestino de adolescente colombiana.

A festa durou seis dias e seis noites. No sétimo, descansamos. Motivo pelo qual passamos tanto tempo sem escrever no ploc. Ninguém comemora o ano novo melhor que os colombianos.

Não vomitem
Partimos hoje numa viagem de sete dias para a Disnu World! Vamos continuar a festa da chegada de 2005 na companhia de Mickey, o rato de três dedos, e sua turma. A Dani queria porque queria ir lá de qualquer maneira, provavelmente para superar algum trauma de infância. E eu, que nunca fui, finalmente vou poder realizar meu sonho de garoto suburbano e cantar:

"Seja sócio desse clube como todos nós
Ele é meu, ele é seu
É do Mickey Mouse
Todos gostam dele, desde o neto até os avós
Ele é o maior
Viva o Mickey Mouse
Mickey Mouse...Pato Donald!
Mickey Mouse...Pato Donald!
Pra sempre há de ser o nosso herói
Oi, oi, oi
Entre nessa festa pra cantar com todos nós
Ele é o maior, viva o Mickey Mouse!
Seja sócio desse clube....
Todas as crianças vão cantar numa só voz
Ele é o maior, viva o Mickey Mouse!
Ele é o maior, viva o Mickey Mouse!"


posted by Sergio | 6:26 PM


sexta-feira, dezembro 31, 2004  

Feliz 2005!
Fim de ano no Brasil é aquela coisa: é esperar meia noite e urrar como se fosse o último minuto da sua vida. Já aqui em Dala é meio diferente. É mais aquela burocracia de virar a folhinha do calendário e pronto. Hoje é nosso segundo réveillon aqui. Como vocês sabem, no réveillon passado o ano não queria acabar e eu praticamente tive que fazer o ano virar à força. Desta vez minhas espectativas são mais baixas — ou mais realistas — e estou muito contente com o calendário novo que compramos. Pretendo apenas trocar a folhinha e é isso aí.

Nada como um ano após o outro
Ainda bem que 2004 acabou. Por mim, podia ter acabado até antes. Foi muito bom, muito bem, mas eu já estou pronto para o ano que vem. A cada calendário novo é hora de retrospectivas sobre o calendário que termina. Não vou gastar nosso tempo fazendo isso. Em vez, vou focar no futuro: ano que vem eu prometo que vou cumprir todas as minhas promessas não cumpridas este ano. Uma delas: escrever mais no blog.

A profecia
É, meus amigos. Este ano vocês demonstraram uma fé fervorosa. Coisa de quem não vê o que não vê e não acredita no que não acredita. Graças a isso o ploc sobrevive. Quantas e quantas vezes vocês vieram aqui esperando que um milagre trouxesse um post novo? Vossa fé será recompensada com um 2005 sem precedentes: o amor encherá vossos corações, curas vão acontecer, pés de dinheiro vão brotar em vossos quintais. 2005 vai trazer a todos nós uma seqüência de milagres sem precedentes na história. Tudo isso porque nós tivemos fé. Feliz ano novo! Feliz ano novo! Feliz ano novo!

posted by Sergio | 4:19 PM


sexta-feira, dezembro 24, 2004  

Neve! Neve! Neve!
Quarta-feira nevou de novo! Não adianta que eu não me acostumo: tem neve, tem post. Desta vez foi meio mixuruca. Não estava muito frio no dia que nevou e quase tudo derreteu assim que tocou o chão. Só a neve que caiu sobre a grama durou. Agora estamos numa frente fria e já faz três dias que a temperatura fica entre +2 e –8 graus. Mas amanhã mesmo, de acordo com o canal do tempo (meu companheiro de todas as horas), a temperatura vai subir.

Mas a grande aventura desta nevasca, se é que se pode chamar de aventura, foi dirigir na neve. Foi minha primeira vez e vocês iam ficar orgulhosos de mim: tirei de letra, parecia um legítimo esquimó. Não estava mais propriamente nevando quando eu dirigi e a neve que caiu no asfalto já tinha derretido. Mesmo assim, era só eu e a neve derretida, não dava mais ninguém. Então a sensação era mais ou menos como se eu estivesse dirigindo na chuva, mas era neve. Caiu como neve, é neve. Não importa se já derreteu.

Chegamos ao trabalho sãos e salvos e parei nosso veículo numa área aberta. Nevou de novo. Quando voltamos ao carro, com a temperatura perto de –5º, a neve tinha se transformado em um amontoado de gelo duro. Não dava pra ver nada pelo pára-brisas, o carro estava indirigível. Foi então que, mais uma vez, o Abominável Homem das Neves entrou em cena. Todos aqueles anos vendo Discovery tinham que servir para alguma coisa. Peguei um esquadro e uma garrafa de água meio morna. Joguei a água no gelo e esfreguei com o esquadro. Dez minutos depois o carro estava reutilizável. Enfim.

Ao chegar em seu iglu, Nanuk do Norte tirou a roupa e dormiu com as costas numa pedra de gelo.


Um esquadro e uma garrafa de água: o grande Nanuk do Norte usa criatividade e ferramentas rudimentares para livrar seu trenó da nevasca

posted by Sergio | 3:15 PM


segunda-feira, dezembro 20, 2004  

Esclarecendo
Parece que os amigos não entenderam o espírito do meu último post. Deixa eu me explicar. Tem gente que gosta de escalar montanha e gente que gosta de passear com o cachorro. Há quem beba todos os dias e quem goste de acampar. Uns fumam, outros vão Maracanã todo domingo. Eu? Eu gosto de sair pra ver apartamento e de assistir o canal do tempo. Entendem? Não faço porque estou deprimido, faço porque acho maneiro.

Talvez a limitação de opções de Dala dê a impressão de que ver apartamento é a única coisa maneira pra se fazer aqui. Sim, é quase verdade. Mas isso não diminui a emoção de entrar numa casa vazia. Aqui não tem praia, mas tem muito prédio. E não tem campeonato brasileiro, mas tem canal do tempo. É uma questão de adaptação.

Anúncio importantíssimo
Dito isso, vamos às novidades. Tchan-tchan-tchan-tchan! Em poucas palavras: A DANI ESTÁ GRÁVIDA!!!

Mentira, mentira...

Uma merda este post. Foi mal.

posted by Sergio | 2:30 AM


segunda-feira, dezembro 13, 2004  

Minhas taras
Andei ocupadíssimo fazendo nada. E, como se sabe, quando a gente não faz nada é que mais falta oportunidade pra fazer alguma coisa. A verdade é que gastei muito do meu tempo livre nos últimos dias procurando apartamento sem a menor necessidade. Quer dizer, eu e a Dani estamos pensando em mudar, mas só daqui a três meses, no final de fevereiro, quando termina o nosso contrato. Apesar disso, resolvi começar a procurar casa agora. Mais pelo ócio e pela obsessão do que por qualquer outro motivo.

Então passo meus dias vendo vários apartamentos e me informando sobre preços e promoções que não vão mais estar em vigor quando realmente formos mudar. Dala tem centenas de mega condomínios que sempre têm várias unidades vazias. Se você tem o dinheiro e a ficha limpa, não tem burocracia, é muito fácil alugar. Pergunto tudo nos mínimos detalhes, como se quisesse pegar as chaves daqui a cinco minutos. Não sei o que me dá, mas não consigo me controlar. Só quero ficar vendo mais e mais apartamentos. Sei que vai parecer estranho, mas fazer isso me dá esperança, me enche de vontade de viver.

Além disso, a única outra coisa que tenho feito é ver a previsão do tempo. Aqui é uma maravilha porque tem um canal que só faz passar a previsão, vinte e quantro horas por dia. É claro que depois de meia hora é tudo repetição, mas eu continuo assistindo e assistindo e assistindo, horas a fio, sem parar. Eles têm o talento impressionante de fazer cada repetição tão inesquecível quanto a primeira vez. Pode até parecer que não, mas é muito maneiro.

Graças aos apartamentos e à previsão do tempo é que tenho levado a vida. Se por um lado, ver apartamento me enche de esperança, por outro, ver a previsão do tempo me traz segurança — a sensação de que eu sei pelo menos uma parte do que vai me acontecer nos próximos dias. E assim eu vou construindo uma base sólida para minha vida aqui nos Estados Unidos, e posso me dizer quase recuperado da minha depressão.

posted by Sergio | 3:13 AM


domingo, novembro 21, 2004  

Amizade prostituta
Não sei o que houve nas últimas duas semanas, mas o tempo tem passado rápido demais. Quando me dou conta, já era — o dia acabou e eu não fiz nada. Ando desocupadíssimo, mas completamente sem tempo.

Enfim. Não é de hoje que estou querendo contar uma novidade: faz três semanas que estou indo a um psicólogo. Descobri que estou deprimido e resolvi me tratar. Hum. Vou dizer a verdade em poucas palavras: estou de saco cheio de estar longe do Brasil. Esse negócio de experiência internacional é muito legal e tal, mas por mim já tava bom de voltar. E eu juro que voltaria se o Brasil não fosse a decepção econômica que é e se o Rio não fosse um projeto de Bogotá. Pra piorar, só falta o Flamengo ser rebaixado.

Exílio econômico
A fase de experiência aqui acabou. Agora me considero um exilado econômico vivendo nos Estados Unidos. É mais difícil porque antes parecia que viver aqui era uma opção. Agora, me parece que eu não tenho outra escolha. E ter Dala como única saída deprime qualquer um.

Sou muito grato pela a hospitalidade texana. Mas morar em Dala é como se eu vivesse numa festa estranha. Não conheço ninguém que tenha alguma coisa em comum pra conversar. Tudo o que é importante pra eles não tem o menor valor pra mim. Se eu cago e ando pra futebol americano e basquete, eles, por sua vez, mal reconhecem a existência de vida fora do Texas. Nenhum assunto engrena, nunca tem discussão. E viver sem ter ninguém pra discordar é um castigo terrível.

Analista de Bagé
O fato é que eu descobri que precisava de alguém pra conversar. E minha única opção é pagar uma puta auditiva – pra mim, meu psicólogo é como um amigo que só sai pra tomar cerveja comigo se eu pagar a conta. Fazer o quê? Durante uma hora, uma vez por semana, vou lá, jogo meu lixo em cima do cara e saio. Ainda não resolveu nada, mas a Dani diz pra eu ter paciência. Estou tendo. Vamos ver...

posted by Sergio | 5:35 PM


sexta-feira, novembro 05, 2004  

O voto do Brasil
Não canso de me espantar com a alma brasileira: nós somos o máximo. Outro dia abri o Globo Online e estava lá a pesquisa: “em quem você votaria para presidente dos Estados Unidos?” Sensacional. Mas, como era de se esperar num país que elege um sujeito com nome de fruto do mar para a presidência, em primeiro lugar, Kerry, com 78%. Em segundo, Bush, com 9%.

O terceiro na preferência dos brasileiros foi um tal de Leonard J. Peltier, candidato ignorado pela mídia americana que — além de ser parente distante da Marcia Peltier — tem no currículo a condenação pela morte de dois agentes do FBI.

Infelizmente a pesquisa não dizia se ia ou não somar-se ao resultado da apuração americana. E o pobre eleitor brasileiro corre o sério risco de ter seu grito ignorado.

O modelo eleitoral americano
As eleições aqui não são decididas pelo voto popular. Quer dizer, as pessoas votam, mas o voto não importa muito porque não vai necessariamente para o candidato escolhido. O importante não é vencer as eleições no país, mas vencer nos estados.

Cada estado tem um número de votos que varia de acordo com sua população e importância econômica. O candidato vencedor em cada estado leva todos dos votos daquele estado, mesmo que tenha vencido por 1% de diferença. O Texas, por exemplo, tem 34 votos. Apesar de 38% dos eleitores daqui terem votado para o Kerry, todos os 34 votos do estado foram para o Bush.

Como nem tudo é perfeito, esse modelo eleitoral abre brechas para bizarrices democráticas. Foi o que aconteceu em 2000: Al Gore teve mais votos populares do que Bush, mas Bush ganhou em mais colégios eleitorais. Ou seja: venceu quem teve menos votos.

Injusto? Bem, o petista do Michael Moore responderia que sim. Mas, se fosse da minha conta, eu diria que não. As regras do jogo estão aí há séculos e ninguém nunca se mexeu para mudá-las. Portanto, querendo ou não, o Bush é um presidente legítimo. E, se os democratas insatisfeitos tivessem colhão, deveriam ter tentado dar um golpe militar. É isso o que eu acho.

Diferentes, mas iguaizinhos
Enfim. A imprensa daqui diz agora que esta eleição deixou o país dividido. E um mapa do resultado faz parecer que essa divisão é verdadeira: quem mora nas cidades grandes nos dois litorais votou para o Kerry. Na imensa zona rural no meio do país, todas as codornas, vacas e espigas de milho ajudaram a reeleger o Bush.

Mas eu não entendo como as pessoas podem achar tanto pano pra manga em debates sobre duas pessoas que representam basicamente a mesma coisa. Amigos, isso daqui é a maior política de café-com-leite da história. Há seculos apenas dois partidos se revezam no poder e os dois são iguaizinhos. Ambos reconhecem que time que está ganhando não se mexe. Portanto, nenhum dos dois mudaria nada tanto na política interna quanto na externa.

Questões em debate
Saúde, por exemplo, custa e vai continuar custando o olho da cara. A diferença é que, enquanto o Kerry falava isso fingindo que dizia o contrário, o Bush xingava o Kerry de “o senador mais liberal de Washington” e dizia que ele ia estatizar a saúde pública do país, como um comunista. Outro exemplo: relações exteriores. Seja já quem for o presidente, Bush ou Kerry invadiriam qualquer Iraque que tivesse que ser invadido. A diferença é que o Bush invadiria a seco e o Kerry daria uma cuspidinha antes.

Em relação às questões morais — que seriam irrelevantes se este país realmente tivesse problemas sérios —, ambos são contra o aborto e o casamento gay. A diferença é que o Bush gritava para o mundo inteiro que era contra, e o Kerry era contra fingindo ser a favor.

Em poucas palavras, ganhou aquele que teve coragem de confessar o que pensava (na certeza de que o país tem mais radicais religiosos do que gays e mulheres querendo abortar).

E nós? E nós?
Por fim, é interessante ver o debate fervoroso em torno de Bush e Kerry também no Brasil. Felizmente, parece que somos mais articulados para falar das eleições americanas do que das nossas. Afinal, é muito importante entender o que pensa e como vota quem realmente está no poder. Mas, seja lá de que lado amigos estiverem, não esqueçam de uma coisa: antes de mais nada, nossa opinião não interessa.

posted by Sergio | 5:46 PM


sexta-feira, outubro 29, 2004  

Do outro lado da vida
Este site acaba de passar por uma experiência transcendental. Deletei por acidente o ploc e todos os arquivos... Tudo pra casa do cacete. Fiquei desesperado, quase urinei sangue quando percebi a asneira que por pouco não priva meus netos da fantástica saga dos Peçanhovits em solo americano. Mas graças a uma espécie de xamã chamado Help desk — que está para a informática como Chico Xavier está para minha bisavó Joaquina — tudo acabou bem. Muito obrigado, senhor help! Acenderei uma vela para sigo hoje.

Voltando ao assunto
Como eu dizia, o passaralho foi violento. Felizmente eu não estava entre as oferendas, mas cinco pessoas dançaram na minha editoria. Um deles, o diretor de ilustração – que, coitado, já foi tarde. Pra começar, ganhava uma fortuna e era péssimo ilustrador. Pra piorar, é um mexicano-americano, espécie rejeitada nos dois países e com sotaque horrível nas duas línguas. Imagino a maldição que deve ser isso. Não ter sotaque definido é provavelmente uma das piores coisas que podem acontecer depois de ter sotaque de gaúcho.

Dos outros quatro, lamento por dois, sinto pena de um e o outro eu mal conheci. Mas, poxa vida, sem querer ser espírito de porco: não dava mais. Alguém tinha que ser demitido e, num rompante de loucura, acabaram escolhendo pessoas que não faziam nada. É claro que ficaram pra trás vários outros ociosos. Mas se demitissem todo mundo que não faz nada, quem é que ia fazer nada no dia seguinte?

Além disso, a sobrevivência de indolentes serve para dar conforto aos que efetivamente trabalham – dentre os quais modestamente me incluo. Pelas minhas contas, estou imune a pelo menos mais dois passaralhos. No mais, foi tudo como esperado. Na editoria das donas-de-casa, fizeram uma faxina digna dos Albinos. Diz a lenda que o número chegou a quarenta! O que significa que, de agora em diante, cada uma das senhoras que sobraram escreverá uma matéria por mês.

É igual, mas é diferente
Alguns amigos podem estar achando que o passaralho daqui é a tecla SAP do que acontece aí de cinco em cinco minutos. Pois bem: tem semelhanças, mas não é igual. Primeiro porque aqui a situação da economia não é desgraçada – e o governo não é do PT. Segundo: porque, por pior que esteja o jornal, sai todos os dias quase do tamanho do Globo de domingo, numa cidade com um quinto da população (aos domingos tem tanto anúncion que sai quase duas vezes do tamanho do Globo).

Entre as semelhanças: os culpados nunca perdem o emprego. De acordo com a diretoria, o principal motivo do passaralho é a diminuição na entrada de anunciantes por causa de 11 de setembro! Mas a verdade é que, pelo menos entre os bois e as vacas do Texas, o World Trade Center já faz tanto tempo que mais parece uma invenção do partido Democrata.

Outra razão apresentada é a diminuição da circulação do jornal – hoje vende-se 11% menos do que há um ano. E o principal motivo: houve um escândalo na divulgação dos números de circulação aqui, o que vai ser um prejuízo grande. Embora a diretoria não admita a relação entre uma coisa e outra, a verdade é que o passaralho só foi anunciado depois do escândalo. Foi uma ação da chefia pra mostrar serviço aos acionistas. O que nos apresenta a mais uma semelhança com o Brasil: quem tá embaixo é quem sempre se fode.

Nota final
Mas não me entendam errado: não quero fazer panfletagem. Sou alérgico a causas sindicais. A verdade é que esse problema não é meu e eu não passo de um latino dando palpipe na vida dos outros.

posted by Sergio | 1:37 AM


quarta-feira, outubro 27, 2004  

Notícias de um passaralho particular
Hoje a foice finalmente chegou aqui no jornal. Vai dar meio dia e eu ainda não fui demitido. Nem eu, nem ninguém do meu departamento. Mas acho provável que o panorama mude nas próximas horas (felizmente, e espero, não pra mim). Segundo as más línguas, até agora acabaram com a seção de Ciência, mais cinco em Editorial, um punhado em Economia. Houve também uma carnificina nas donas-de-casa do Texas Living, a versão texana do Segundo Caderno — mas muito pior. E, só no Esporte, mais 18. Enfim, mó cabeçada.

Coisa de primeiro mundo
Vira e mexe acontece alguma coisa que me faz lembrar que aqui não é o Brasil. Vejam só vocês: fizeram uma caixinha de doações para as vítimas do passaralho. Esses gringos são foda. O nome da campanha é “você tem amigos no Dala Morninius”. Enquanto no Brasil quem continua empregado pede empréstimo a quem vai sacar o FGTS, aqui eles doam.

As doações são voluntárias e podem ser de qualquer valor. No final da vaquinha, o total é dividido por todos que dançaram. Se por acaso algum doador levar o bilhete premiado, tem o direito de receber de volta tudo o que doou, mais a sua parte no ratatá. Até o momento, cada vítima do passaralho vai levar 100 dólares. O suficiente para encher o tanque do carro, comprar uma calça e um par de camisas para as entrevistas de emprego.

Como sou brasileiro, não doei nada. Mas tive a intenção.

Beleza rara
Como eu já disse, o passaralho não é tão mal quanto parece e o que não falta é gente pra demitir. Por exemplo, na seção das donas-de-casa dançou uma senhora que estava há mais de 35 anos no jornal. Vou descrever essa: era uma gorducha de um metro e meio, cabelos longos e brancos, olhos azuis e até gente boa. Beleza rara: tinha dezenas de verruguinhas espalhadas pela cara.

Pois bem. Uma vez essa senhora me contou que tinha feito topless nas Filipinas e eu passei uma semana acordando no meio da noite. Agora vejam: qualquer pessoa que passe 35 anos fazendo a mesma coisa tem que ter que ter algum tipo de desvio. E se tiver feito topless nas Filipinas, sem chance.

Essa não saiu da minha boca
“Não tenho pena. Chegou a hora dessas senhoras que estão aqui há dezoito anos fazendo uma matéria a cada dois meses pagarem a conta.” A autora da frase faz uma matéria por semana.

Outros departamentos
E no Esporte? Dizem que a editoria daqui é uma das melhores do país. Eu acho uma bosta. Publica um caderno diário e, aos domingos, dois cadernos. De beisebol a pingue-pongue, cobre de tudo — menos futebol. Não gastam nem uma mísera gota de tinta com o único esporte que interessa. Nem da Seleção Brasileira eles falam. Nem do Cosmos! Donde se conclui que dezoito demissões é um número modesto.

E no Editorial? O jornal é pró-Bush e estamos no Texas. Escrever editorial aqui é como jogar um copo d’água num rio transbordando. E Ciência... Alô, aqui é o Texas. Quem vai ler Ciência? Só se forem os bois e as vacas, pastando debaixo dos poços de petróleo. Enfim. Até aqui estou cem por cento com o patrão.

posted by Sergio | 1:54 PM


domingo, outubro 24, 2004  

O circo pegando fogo
Se tem um assunto no qual me sinto escolado, esse assunto é passaralho. Vi pelo menos um em cada emprego que tive. Fui vítima uma vez e perdi as contas de quantos testemunhei. Agora, para aumentar meu know-how sobre o tema, estou prestes a acompanhar meu primeiro passaralho americano.

Nós damos de dez a zero neles
Diferentemente do que acontece na selva, passaralho é coisa rara por aqui. E se compararmos os números, parece brincadeira. A empresa tem dez mil, vão demitir 250. Certa vez, quando eu trabalhava na Globo.com, a empresa tinha umas 500 pessoas. Assim, como quem aperta o botão da descarga, demitiram uns 300 num dia. Isso sim é passaralho.

Felizmente a vida me deixou cretinamente imune à histeria coletiva que acompanha esses momentos trágicos. Ainda no Brasil, sempre me impressionava a falta de dignidade que muitas pessoas demonstram diante do abate iminente. É um tal de resmungar pelos cantos que irrita. Mas aqui esse resmungar me parece ainda pior, ainda mais detestável e, com freqüência, mais patético.

Bando de inúteis
Cerca de trinta pessoas trabalham no mesmo departamento que eu. Uns cinco são bons profissionais, dez são mais ou menos, cinco são ruins e uns dez são absolutamente dispensáveis. A situação é bem diferente do Brasil, onde até quem é bom é demitido. Aqui, por pior que seja a foice, infelizmente não vai ser violenta o suficiente para limpar a empresa de tanto parasita.

Albinos
Uma vez eu e o Mario tivemos um sonho, quase uma visão: um dia um grupo de albinos vestindo terno branco e trazendo nas mãos tacos de beisebol virá limpar o mundo de tudo o que é impuro. Sim, albinos. Lindos como anjos, vão nos livrar da peste, nos vingar de todo parasita, a começar pelas redações de jornal. Há um sujeito que trabalha aqui comigo que tem dezenas, centenas de bonequinhos de personagens de filmes. Batman, Jason, Alien, Chucky, Scoobie Doo. Sobre sua mesa, amarrados no teto, duas naves de Star Wars e bonecos do Ken e da Barbie Rockstar. Infelizmente este medíocre não vai rodar no passaralho, porque a lista de incompetentes é grande demais e tem mais de dez na frente dele. Mas não seria mal vê-lo pedidndo ajuda para tirar os brinquedos do teto. Que os albinos comecem por ali a justificar a humanindade.

Caixas de papelão
Anunciaram a demissão em massa há um mês, mas não marcaram a data. Desde então, naturalmente, só se fala disso no cafezão (eles tomam cafezinho em copo grande). Inexplicavelmente, neste fim de semana umas caixas de papelão brotaram nos cantos do prédio. Que venha a foice.

posted by Sergio | 9:31 PM


segunda-feira, outubro 18, 2004  

Te amo espanhola
Não há nada mais lindo do que testemunhar o florescer de um talento. Florescer apenas? Não. Estamos falando aqui de libertação, de transformação, metamorfose, uma verdadeira soltada de franga! O que vocês vão ver agora são cenas chocantes: Mario Guilherme, o velho reaça, o rei nú, subindo nas tamancas transvestido de bailarina espanhola. Cubram suas narinas e bom proveito.


Guapo! Muy bien chico! Flamengo!

Vídeo da mãozinha G (1.2MG)
Vídeo da mãozinha P (312KG)
Coreô (592KB)
Entrevista (1.2MB)
Também tem as fotos

posted by Sergio | 10:41 PM


segunda-feira, setembro 27, 2004  

Imperador no trono
A Dani chegou no Rio ontem de manhã e avisa que o velho está bem, já saiu do hospital. Está se entupindo de remédios, mas, felizmente, parece que ainda não é dessa vez que a Porta da Esperança vai se abrir. Até já voltou ao trabalho. (Foi tudo cena.)

O único problema é que eu tinha pedido essa semana de férias pra ficar em casa chucutrando com a patroa e todo esse drama aconteceu. E mais uma vez, cá estou, sem mulher e sem nada pra fazer. Imperador soberano da Repúplica Aleatória do Chiqueirinho. E desta vez, não sei porque, bateu um piriri que eu não saio do trono. Passo o dia inteiro reinando e dando ordens pra mim mesmo. Uma maravilha.

Hoje acordei decidido a me mover. A primeira coisa que fiz foi me escrever uma lista de tarefas: trocar óleo e lavar carro, arrumar casa, lavar louça, ir à ginástica, cortar cabelo, desarrumar mala. Como se vê, tudo muito emocionante. Não fiz nada. Trabalho não visto é trabalho não feito. Estou acumulando tudo pra fazer na véspera da volta da patroa.

Enquanto isso, vou vivendo minha vidinha mais ou menos, falando com as paredes e as moscas que de vez em quando aparecem. Regozijo-me na fortuna dos ociosos. Pretendo refazer minha listinha de tarefas e, dia após dia, pretendo não cumprí-las.

posted by Sergio | 1:03 PM
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