quarta-feira, outubro 27, 2004  

Notícias de um passaralho particular
Hoje a foice finalmente chegou aqui no jornal. Vai dar meio dia e eu ainda não fui demitido. Nem eu, nem ninguém do meu departamento. Mas acho provável que o panorama mude nas próximas horas (felizmente, e espero, não pra mim). Segundo as más línguas, até agora acabaram com a seção de Ciência, mais cinco em Editorial, um punhado em Economia. Houve também uma carnificina nas donas-de-casa do Texas Living, a versão texana do Segundo Caderno — mas muito pior. E, só no Esporte, mais 18. Enfim, mó cabeçada.

Coisa de primeiro mundo
Vira e mexe acontece alguma coisa que me faz lembrar que aqui não é o Brasil. Vejam só vocês: fizeram uma caixinha de doações para as vítimas do passaralho. Esses gringos são foda. O nome da campanha é “você tem amigos no Dala Morninius”. Enquanto no Brasil quem continua empregado pede empréstimo a quem vai sacar o FGTS, aqui eles doam.

As doações são voluntárias e podem ser de qualquer valor. No final da vaquinha, o total é dividido por todos que dançaram. Se por acaso algum doador levar o bilhete premiado, tem o direito de receber de volta tudo o que doou, mais a sua parte no ratatá. Até o momento, cada vítima do passaralho vai levar 100 dólares. O suficiente para encher o tanque do carro, comprar uma calça e um par de camisas para as entrevistas de emprego.

Como sou brasileiro, não doei nada. Mas tive a intenção.

Beleza rara
Como eu já disse, o passaralho não é tão mal quanto parece e o que não falta é gente pra demitir. Por exemplo, na seção das donas-de-casa dançou uma senhora que estava há mais de 35 anos no jornal. Vou descrever essa: era uma gorducha de um metro e meio, cabelos longos e brancos, olhos azuis e até gente boa. Beleza rara: tinha dezenas de verruguinhas espalhadas pela cara.

Pois bem. Uma vez essa senhora me contou que tinha feito topless nas Filipinas e eu passei uma semana acordando no meio da noite. Agora vejam: qualquer pessoa que passe 35 anos fazendo a mesma coisa tem que ter que ter algum tipo de desvio. E se tiver feito topless nas Filipinas, sem chance.

Essa não saiu da minha boca
“Não tenho pena. Chegou a hora dessas senhoras que estão aqui há dezoito anos fazendo uma matéria a cada dois meses pagarem a conta.” A autora da frase faz uma matéria por semana.

Outros departamentos
E no Esporte? Dizem que a editoria daqui é uma das melhores do país. Eu acho uma bosta. Publica um caderno diário e, aos domingos, dois cadernos. De beisebol a pingue-pongue, cobre de tudo — menos futebol. Não gastam nem uma mísera gota de tinta com o único esporte que interessa. Nem da Seleção Brasileira eles falam. Nem do Cosmos! Donde se conclui que dezoito demissões é um número modesto.

E no Editorial? O jornal é pró-Bush e estamos no Texas. Escrever editorial aqui é como jogar um copo d’água num rio transbordando. E Ciência... Alô, aqui é o Texas. Quem vai ler Ciência? Só se forem os bois e as vacas, pastando debaixo dos poços de petróleo. Enfim. Até aqui estou cem por cento com o patrão.

posted by Sergio | 1:54 PM
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