terça-feira, março 29, 2005  

Sobre a castração em massa dos cães gringos
De acordo com um panfleto que vi outro dia, "diariamente nascem 10 mil humanos e 70 mil bichos de estimação nos Estados Unidos. A discrepância numérica faz com que todos os dias milhares de animais saudáveis sejam exterminados." Portanto, para tentar lidar com o peso na própria consciência, os americanos incentivam a castração. Quanto menos cachorros nascerem, menos eles vão ter que matar.

E se eu não quiser castrar?
Para mim e para a Dani também pareceu desumano esse negócio de ficar castrando tudo o que é bicho. Mas, no caso da fêmea (Seidi Sara, por exemplo), existem dois inconvenientes óbvios: 1) ela seria a portadora de possíveis filhotes; 2) o sangue no carpete a cada cio. Se fosse macho, o prejuízo era dos outros. Mas nasceu mulher...

Só que esses dois não são os únicos incovenientes de um animal não castrado nos Estados Unidos. Tem um bem idiota, por exemplo, que é relacionado ao registro obrigatório que todo animal tem que ter na prefeitura. A taxa anual não é cara, custa 7 dólares. Mas se o bicho não for operado o preço sobe para $30.

Outro inconveniente: não poderíamos deixar uma cadela não-castrada num canil quando formos ao Brasil. A parada é um hotel 5 estrelas: de 7h às 19h ela vai ficar brincando com outros cachorros, a coisa que ela mais gosta de fazer na vida. De 19h às 7 ela vai estar na jaula, tão cansada que nem vai ver o tempo passar. Enfim, um hotel bom pra cachorro, mas que ela não poderia desfrutar sem ser castrada.

Apesar disso, bem que queria ser cachorro nos Estados Unidos
É um negócio da China ser cachorro aqui. Muito brasileiro adoraria ter a metade dos paparicos que os cães tem. Cabeleireiros, perfumes, escovas de dente, veterinário uma vez ao ano, tratamento contra câncer, todo tipo de comida, brinquedo, cama especial, bebedouro exclusivo. Tudo, tudo. A única chance de ser um cachorro infeliz aqui é se o cachorro der o azar de pertencer a uma família de mexicanos e ser criado pra fazer rinha.

Mas os americanos têm uma relação muito interessante com os animais. De modo geral, é bem diferente da nossa e às vezes parece meio desumana. Mas ao que tudo indica é a melhor possível para ambos os lados. Para mim, um motivo claro do sucesso desse estilo de relacionamento é que os bichos aqui vivem mais do que os que eu conheci no Brasil. Aí eles costumam viver uns 8 anos e aqui não é difícil encontrar cachorros com 12 anos ou mais.

Os americanos partem do princípio que é preciso civilizar o cachorro. Isso quer dizer que uma grande parte dos bichos é relativamente treinada: sentar, ficar parado e buscar bolinha são ensinamentos relativamente comuns à sabedoria canina por aqui. Seidi Sara, por exemplo, nunca caga nem mija dentro do apartamento (com excessão de dois xixis em casa na primeira semana que estava com a gente e do incidente no carro). Tem cachorro que é tão treinado que prepara a janta, lava carro e faz até declaração de imposto de renda — eu já vi! Sério!

Boa parte dos donos de bicho que eu conheço está disposta a dedicar um bom tempo por dia ao animal. De modo geral, pelo menos uma hora de atenção quase exclusiva. Os donos se dedicam tanto aos bichos que inventaram uns parques só para cachorros. Aqui perto tem um: é uma área cercada do tamanho de dois campos de futebol, onde os animais ficam soltos e correm até botar os bofes pra fora. Fica ao lado de um lago proibido para humanos, mas onde a Seidi Sara adora nadar. Isso tudo para não falar nas várias entidades de proteção aos animais e nos supermercados que só vendem coisa para bicho de estimação. Enfim.

Boletim médico da Seidi Sara
Finalizando, vou dar o boletim médico de Seidi Sara: a operação para botar as tripinhas no lugar foi um sucesso e ela já se recuperou. Os pontos ainda estão na barriga, mas ela já pode correr e ficar de putaria. Como ela não cansa de comer meu dinheiro, agora inventou uma caganeira. Vira e mexe a Dani diz que “a Seidi Sara dá trabalho mas compensa”. Bem, minha opinião é a seguinte: a cachorra é maneira e eu não reclamo muito da despesa que ela dá. Mas pra compensar mesmo, é bom ela aproveitar que é da raça da Lassie e começar a salvar vidas por aí.

posted by Sergio | 1:02 AM
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